28 de agosto de 2013

Para ti, meu pai.

Não estou a ouvir música enquanto te escrevo, não quero que nada influencie as minhas palavras, as palavras que nunca te disse e provavelmente as que nunca te direi. Eu amo-te, é inevitável, não dá para não te amar, sou do teu sangue, és meu pai, tal como sou tua filha e isso nunca vai mudar. Talvez te ame, na ideia que criei de ti, porque... porque nós não nos conhecemos certo? Quando digo que te amo, em segredo porque nunca ouviste estas palavras vindas da minha boca, sinto que amo um estranho. É ridículo não é, conheço-te à vinte anos e não sei quem és. Estou contigo, todos os anos, mas sinto que nem pertences aqui. Serás tu que estás mal, será que sou eu que estou mal? Questiono-me vezes sem fim sobre o que nós somos, se existe algum tipo de futuro, se existiu algum tipo de passado, porque se houve... eu não me lembro. Não me lembro de ouvir um elogio mais profundo vindo da tua boca, não me lembro de ouvir uma palavra carinhosa e genuína. Eu sei pai, eu sei que tu as sentes, mas sei que infelizmente não as mostras, não te deste a conhecer e infelizmente já é tarde. Tarde para se construir uma amizade, um amor, uma relação. Tarde para um nós. Lamento pai, amo-te, mas és e temo que sempre serás um desconhecido no meio de todos os meus conhecidos. Lamento pai... Lamento que a vida nos tenho posto de costas voltadas sem haver nenhuma zanga. Será que somos parecidos? Será que temos ideias e prazeres idênticos? Vejo-te, todos os anos, sinto-te no Natal, sinto-te no Verão, mas sinto-te ao longe. Porquê?; não sei o que é dividir um lençol contigo, não sei o que é rir contigo, não me lembro de ti. É triste, é duro, mas a verdade é que nunca penso em ti nas decisões mais importantes na minha vida, porque sinto que nunca pensaste em mim sempre que decidiste alguma coisa na puta da tua vida. Estou revoltada, contigo. Tu és a minha maior revolta interior. É uma espécie de ódio junto com amor, é uma espécie de dor que não encontra prazer nenhum. Amo-te muito pai, mas ao mesmo tempo sinto que te odeio. 

12 comentários:

  1. Por vezes queremos que as nossas relações sigam estereótipos mas cada um é como cada qual. Não sei que passado vos separou ou vos deu essa distância, mas espero que um dia lhe perdoes. Sei que o amas, não o culpas verdadeiramente, mas precisas de perdoar para que não haja ódio, apenas distância.

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  2. Sei o que é esse sentimento de odiar e amar alguém (neste caso também o meu pai) ao mesmo tempo.

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  3. Adorei este teu texto, de verdade mesmo

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  4. Quando se escreve com o coração :)
    Quanto a este post: nunca é tarde!

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  5. Vai bem dentro dos possíveis princesa*

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  6. Espero que resolvas o mesmo princesa. Isso não está fácil por aí, é o que me parece. Desculpa a pergunta, mas não vives com o teu pai princesa?

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  7. obrigada. e adorei. se não o conheces, não o odeias. odeias não conhecê-lo.

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  8. serei minha querida.
    força.

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  9. Isso é muito bom, estarmos de bem com quem somos :)))

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«O teu anjo da guarda fala pela boca daquela mulher, que não tem mais inteligência que a do coração, alumiada pelo seu amor.»